Terapia anti-amiloide: Um avanço concreto, mas com graves limitações

Terapia anti-amiloide

A aprovação pela agência reguladora dos Estados Unidos para primeira terapia anti-amiloide foi um marco no tratamento para Doença de Alzheimer, mas ainda com limitações, o que torna seu uso na prática clínica inviável no curto prazo.

Sendo a teoria do depósito amilóide a mais aceita como o início do processo que causa a doença de Alzheimer, buscar uma terapia que retire essa proteína anormal faz todo sentido.

Primeiro: entender que essa é uma linha de pesquisa antiga que foi interrompida por efeitos colaterais graves de encefalite (inflamação do cérebro) e morte. Assim, as pesquisas foram em busca de uma nova substância que driblasse esse problema.

A atual molécula (aducanumab) ainda apresenta um perfil de efeitos colaterais considerável, sangramento e micro-sangramento cerebral identificados em 30% por pacientes. A medicação é feita via venosa com aplicações mensais e doses progressivamente maiores. Deve haver acompanhamento mensal com ressonância magnética e, no caso de sangramento cerebral, interrupção do tratamento.

Segundo: o estudo foi feito usando a Tomografia – PET amilóide como padrão para definir se o paciente tem o depósito amilóide ou não. Apenas quem tem confirmada a presença do amilóide pode receber a medicação. Esse exame está disponível em poucos centros no mundo e ainda não no Brasil. Podemos lançar mão de outro exame que, de forma indireta, identifica o depósito amilóide no cérebro (dosagem de 42-beta amilóide do líquor). Ressalto que não usaríamos o mesmo padrão do estudo impondo mais riscos.

Terceiro: custo. O valor final do tratamento está na casa de milhares de dólares ao ano. Cifras expressivas que, sem dúvida, limitarão o uso desta medicação a poucas pessoas com profundo impacto nos custos da saúde pública e privada.

Quarto: benefício clínico foi apenas num grupo restrito e após reavaliação estatística do estudo. Por tanto tem eficácia discutível.

Por fim, cientistas buscam outras formas de retirar o beta-amiloide do cérebro ou, ainda melhor, de evitar que isso aconteça. A Ciência está a todo vapor em busca de novos tratamentos!

Por enquanto, vamos prevenir!

Falaremos disto em breve.

Para leitura científica: http://dx.doi.org/10.14283/jpad.2021.41